Fernanda Pietra
Expressamos na escrita, o que possuímos na alma.
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Meu Diário
01/10/2008 22h08
JOGUEI A TOALHA

Querido leitor, que ao procurar um diário, encontra um texto esporádico, vai aqui uma confissão: o texto que escrevia ha dois anos ALUNOS QUE ENSINAM foi uma das melhores expressões que tive na profissão de professora.
O fato é que cansei. Cansei das mães que querem que eu seja babá de seus filhos, sem se preocupar se eles estão aprendendo ou não,; cansei de ouvir pais dizendo que sou eu ( entenda-se nós, professores ) que devemos ensinar seus filhos a dizer " muito obrigado ",  "por favor ", com licença " e outras coisas do tipo. Descobri que luto com ventiladores fixados na parede e não tenho nenhum fiel escudeiro a me acompanhar. 
Minha caminhada é solitária e minha voz um sussuro nesta multidão enlouquecida, com medo de dizer "não" aos seu pimpolhos.
Certa vez em uma reunião de pais, uma mãe  perguntou
 se era verdade que iria pendurar os alunos no teto, pois havia dito a um cidadão que não tinha mais onde encontrar lugar para que ele se sentasse. Motivo ? " quase não fazia bagunça", porque uma aluna estava com medo e coisas do tipo. Eram crianças de quarta série  e quase todos, agora percebi entenderam a metáfora. Jamais penduraria um aluno no teto, pois não sou nazista, castrista ou qualquer outra coisa que o valha. Mas... a mamãe não perguntou em momento algum como estava a aprendizagem de seu filho, quais foram suas evoluções, no que poderia ajudá-lo. tive de explicar que minha metáfora era algo como  ' falar pelos cotovelos" e perguntei-lhe se cotovelos falam. Parece que entendeu.
Não bastasse o surto de mediocridade, vem o surto da violência nas escolas. Sinto muito, se o Brasil tem uma dívida social que vem desde sua posse por Portugal, mas o fato é que está insuportável conviver com uma sociedade com pensamento míope, deturpado, que espera tudo do Estado: material, uniforme, leite, sapatos, meias, cadernos...
Esses cidadãos continuarão a depender dessas benesses, pois não terão qualificação profissional para ganhar o pão de cada dia e esperará sempre a esmola do Estado, dos vizinhos, dos parentes. 
Sou apenas alguém que cansou de tudo isso e digo que escola é lugar de aprender. Cansei de pseudos cientistas nas área da pedagogia. Temos que ser profissionais, não esquecendo o ser humano, mas valorizando a profissão. Ninguém dá aula, vendemos mão de obra, conhecimento e também boas maneiras. E como tanto quero ser valorizada por isso. Sou professora sim, não sou saco de pancada de aluno, mãe de aluno ou de qualquer agente agressor. Escola é para se aprender, não é um clube em que crianças e adolescentes se reunem para beber, fumar ou coisas que o valham. 
Se você, querido leitor, não concorda, desculpe-me, mas estou valendo-me do direito de livre expressão, para colocar-me como profissional, mulher e cidadã, pois não há lei nenhuma que proteja a profissão na qual trabalho.
Joguei a toalha e quero ser profissional, independente do imaginário  da comunidade. 

Fernanda Pietra

Publicado por Fernanda Pietra
em 01/10/2008 às 22h08
 
29/11/2006 15h44
ALUNOS QUE ENSINAM
Vivi nas últimas 24 horas, umas das emoções mais fortes e gostosas sentidas até hoje. Meus alunos irão para outras escolas, pois terminaram o ciclo I do Ensino Fundamental. Essa minha 4ª série foi umas das mais queridas que tive.
De uma forma muito espontânea, quiseram homenagear-me e vi nitidamente a cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos, onde eles subiam nas carteiras. Gritavam meu nome, emocionaram-me e emocionaram-se. Percebi que minha luta não foi em vão, ao tentar impor limites necessários na disciplina para que favorecesse a aprendizagem.
O que me chamou mais atenção, durante esse ano letivo, foi a qualidade de aluno, melhor dizendo, pessoas, em processo de formação. Tentei transmitir-lhes amor, caridade, respeito acima de tudo.
Foi maravilhoso ver a bagunça, a desordem que ocasionaram, pois ficou marcado, que suas almas foram tocadas por uma luz que ajudei a acender. Vi pessoas alegres, ávidas de vida, caminhando para um futuro, que desejo , seja promissor a todos.
Vi beleza, pureza, alegria. A vida começa a florescer em seus dias de adolescentes, e uma mistura de infância dando adeus. Agora tudo é festa, passar de ano, Natal, Ano Novo, até chegar a angústia da mudança, do desconhecido.
Essas crianças deixaram-me mais rica, rica em amor, em sabedoria. Pensava eu, que meus dias de brilho profissional tivessem acabado. O brilho do prazer em dar aula. Estar muitos anos em um mesmo lugar, por vezes, torna-nos melancólicos, e eles quebraram essa melancolia. Para mim, tudo na escola que trabalho, traz lembranças de uma juventude repleta de sonhos e desejos não concretizados.
Mas chegou a hora. Eles vão, eu fico e todos esses momentos fugazes de alegria, terão tornado uma foto em nossas lembranças. Peço a Deus que dê a todos eles muita felicidade, que sejam pessoas boas, fraternas, solidárias. Que eu tenha deixado neles a semente do respeito, e do amor e que quando eu for uma lembrança deles, que seja de alguém que os amou muito e fez o seu melhor para poder educar, tanto para a escola, como para a vida. Se assim, algum deles lembrar-se de mim, terá valido a pena ser professora e viver.
Aprendi muito com eles. Tornei-me uma pessoa melhor.


gif.:www.ilona.com.br
Publicado por Fernanda Pietra
em 29/11/2006 às 15h44
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