Fernanda Pietra
Expressamos na escrita, o que possuímos na alma.
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Meu Diário
22/10/2024 15h42
Uma viagem ao centro da alma - PLANTÃO MÉDICO - E R (Série de Televisão)

Extemporaneamente, assisti à série que passou em canais abertos, a famosa PLANTÃO MÉDICO  E R . Devo, em algum momento da vida, ter assistido a alguns episódios, mas nada que chamasse minha atenção para assisti-la assiduamente à época. E provavelmente devo ter curtido aos que assisti. Fato é que sou aficionada em filmes e séries. Eles acalmam minha mente de paciente com Transtorno Bipolar. É aí que a magia começa.

Ambientada em um tempo nonde não havia telefone celular, tablets e PCs (a série começa em 1994, parece que foi ontem!), não havia nada que pudesse se comparar com os smartphones que possuímos hoje. Nem eu tinha a doença diagnosticada. ]e todas essas peculiaridades foram me chamando a atenção ao desenrolar das temporadas que ia assistindo. ]de uma forma muito realista e magistral, Sally Field, personagem Maggie Wyczenskyi, interpretou o inferno que um bipolar passa. Da euforia a depressão profunda quando não tomamos as medicações de maneira correta e disciplinada. Foi aí que comecei  a olhar para a série de uma maneira muito mais intimista. Parecia que eu estava nela, quando via o descontrole da personagem. Só para constar, passei por isso. Demorou dez anos para meu diagnóstico ser finalmente fechado. Aí começa outra história de como o paciente se sente no início do tratamento. Minha alma esta parcialmente desnudada nessa parte do enredo.

Passados os bipolares, onde a personagem de Maura Tierney, como Abby Lockhart, enfermeira e posteriormente, médica, mostra o transtorno que causamos aos entes queridos quando não tomamos nossas medicações e negamos nossa doença. Ela é tratável, porém crônica. Viveremos com ela até a morte. E essa personagem permaneceu na série por 9 anos. Foi puro talento e sensibilidade. Ela representa, para mim, o lado um tanto sombrio e depressivo, mas com uma amizade e lealdade aos que amava. Me levou às lágrimas em alguns momentos. Ela era suave e vendaval, ao mesmo tempo, visceral.

Agora vem uma personagem que desnudou minha existência: Kerry Weaver, interpretado por Laura Innes. No início, achava ser ela arrogante, prepotente e imaginava que seria sem coração. À medida que a série foi se desenrolando, percebi que havia por baixo daquele jaleco branco, hum ser humano, com todas as contradições que são peculiares à nossa espécie. Era um olhar, por vezes, uma palavra ou um gesto. Até que em algum, ela se descobre lésbica, gay, saindo do armário. E aí minha alma começa a vê-la como igual. Uma mulher inteligente, bonita, perspicaz, competente e sarcástica, sendo lésbica! Autorretrato? Talvez. Resguardadas as devidas diferentes entre mim e a personagem, no desenrolar da trama ela se depara com sua mãe biológica, que a entregou para adoção, pois ela era adolescente e a família achou que não deveria ficar com a criança. Na cabeça da kerry, ela achava ter sido abandonada, por ter uma deficiência física no quadril. Kerry teve uma companheira chamada Sandy, uma bombeira que na primeira hora que se esbarraram, salvou sua vida. Enfim, quando Kerry encontra a mãe, ela conta ser gay. A mãe quer rezar junto dela para que fosse curada. E aí vem a cereja do bolo.

Num diálogo que parecia ser a leitura de meus pensamentos, ela me deixa nua diante eu mesma, quando afirma ser ela também uma criação de Deus, o mesmo que a mãe dizia que não aceitava, pois era contra suas leis. E de maneira muito sagaz, ela rebate dizendo: “o que há de tão ameaçador em pessoas como eu, quando há coisas terríveis no mundo?” Porque que as pessoas não se incomodam com guerras, com a fome, bombas lançadas diariamente,  e os crentes dizendo: “Cuidado com essas lésbicas!” É uma sequência de um diálogo, o mesmo que tive em minha mente lá no ano de 1986, quanto tive uma paixão platônica por uma professora. Eu a amava com todas as forças do meu ser. Porém, reprimi com todas as forças meus sentimentos. Entendi que para viver em sociedade eu precisaria mentir. E assim eu fiz. Mas não se pode negar quem somos.

A sequência desse episódio me deixa nua diante de mim mesma novamente. Vi na ficção, meus pensamentos, minhas crenças, minha forma de amar sendo  mostradas ao mundo. Senti uma sensação de poder e pertencimento a mim mesma. Pela primeira vez na vida, me senti poderosa, pois minhas convicções, de uma maneira ou de outra, foram mostradas numa série médica, que amor é uma criação de Deus. O Deus que é amor e perdão e ama todas as pessoas LGBTQIA+. Somos criação de Deus, somos amor e apenas queremos ter o direito de  existir e amar. Não preciso ser consertada. Se você não consegue viver com pessoas uma pouco diferente, paciência.

 

E muitas nuances das relações humanas são mostradas nessa série. Valores como a amizade são marcantes também. Conforme as personagens vão saindo da série, um vácuo vais se formando, ela no fundo da gente bate uma tristeza, misturada com saudade. Os atores têm esse poder: não nos conhecem, mas mexem com nossas emoções, sem saber que existimos e nos tocam com os dedos da arte. Foram 331 episódios e todos eles têm uma mensagem, uma crítica social, com relações a gerras desnecessárias, os massacres que ocorrem na África que a mídia não dá  a mínima. Enquanto a humanidade fica julgando aos outros, tapa os olhas para assassinatos, feminicídios, estupros, e torturas que ocorrem planeta afora. Já faz 15 anos que a série acabou. Iniciou em 1994, terminando em 2009. Entre início e término, passaram 30 anos. A gente acompanhou os atores jovens e depois eles já estão mais velhos, mais maduros. Chorei muitas vezes ao assistir. Pelos defeitos, pelas qualidades, erros e acertos humanos, foi um show para mim. Indo para o final, a despedida de Kerry e Abby me tocou demais. Uma amizade que muitas vezes trocavam farpas, mas que era leal. Interações onde os seres humanos aprendem a ser o animal social. Enxerguei-me muitas vezes nessas personagens. E para tanto, para esse texto não ficar mais longo do que já está, deixo aqui registrado nesse meu site que ouve uma série que de fato me trouxe a consciência de que meus valores são bons, que não preciso do julgamento alheio, nem sou um ser desprezível. Sou apenas alguém que nasceu para amar e ser amada. Meu coração, minhas regras!

 

Publicado por Fernanda Pietra
em 22/10/2024 às 15h42
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